Ricardo Prates*
Talvez poucos ainda se lembrem, mas a introdução
do rugby em cadeira de rodas no Brasil se deu á dez anos atrás, em decorrência
dos Jogos Mundiais de Cadeira de Rodas e Amputados – Tributo à Paz,
realizado na Cidade do Rio de Janeiro, em setembro de 2005, mediante a uma
concessão da International Wheelchair Rugby Federation – IWRF, em
conjunto com as delegações coirmãs presentes ao evento, atendendo uma
solicitação da extinta Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas
e Amputados – ABRADECAR, que nesta feita era coresponsável pela organização
do mundial aqui no Rio.
Na ocasião, um projeto
idealizado pelo Prof. Moyses Sant’Anna, após ter experienciando à modalidade in loco nas Paraolimpíadas de Atenas, em
2004 reuniu alguns aprendizes, para se montar uma equipe de rugby em cadeira de
rodas, para uma mera apresentação, hoje se faz realidade. O termo aprendiz se
fez necessário literalmente, tanto para preparar os atletas quanto para qualificar
os profissionais da comissão técnica, pois na época, por se tratar de uma
novidade no cenário nacional, um grande mutirão foi realizado para se aprender
a jogar rugby em cadeira de rodas.
Há quem afirme, que muitos
que lá estiveram, até preferem esquecer, do quão difícil esse processo se dera.
Traduções de regras, apresentação de vídeos, palestras de temas como
classificação funcional e tática de jogo, montagem da equipe técnica, staff,
espaço para treino (cedido gentilmente
pelo Centro Integrado de Atenção à Pessoa
com Deficiência - CIAD Mestre Candeia), treinos (com as nossas cadeiras
de uso comum), translado, alimentação... Um hall de providências, muito difícil,
de se garantir na época. Mas assim esse ideal se deu. Ou seja, passamos a respirar
Rugby. Do contrário, corríamos o risco de perder uma oportunidade sem igual
para introduzir a modalidade no país.
Tudo se dando assim, meio que de improviso e, como
se não bastasse, eis que subitamente, as vésperas da abertura dos jogos, o que
seria uma ‘mera apresentação’, se tornara em competição, por conta do Brasil
ser o país sede da referida competição.
Imagina, ‘meros aprendizes’, diante de seleções
como USA, Canadá, Africada do Sul. As maiores potências mundiais da modalidade na
época e nós de gaiato no navio. E muitos
achando que iríamos entrar pelo cano,
por se tratar o rugby em cadeira de rodas uma novidade no cenário nacional,
sendo que a modalidade já era praticada desde a década de 70 no Canadá e no
USA, porém com o codinome de Muderball.

Houve quem nos comparassem aos
personagens de uma comedia cinematográfica da década de 90, intitulada “Jamaica
Abaixo de Zero” (do diretor Jon Turteltaub), um filme onde narrava a história
verídica de quatro despreparados atletas jamaicanos com um sonho impossível:
participar das Olimpíadas de Inverno com um bobsleigh (trenó
de neve). Suponho que tal comparação se dera, por conta de nossas cadeiras de
jogo serem de cor amarela, lembrando umas ‘bananas’. Mas enfim, assim como os
personagens do filme, a primeira equipe brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas
(como era de se esperar), não se intimidou e encarou as feras, pondo em prática,
até então, todo aquele aprendizado adquirido.
E aí, me permito enfatizar, que fora um ‘parto’
difícil. Talvez (devido às dificuldades da época), um parto um tanto quanto
prematuro, carecendo de muitos cuidados é verdade. Mas assim o Rugby Brasil
nasceu. Ainda é uma criança, com apenas dez anos de idade, em plena fase de
crescimento, a reunir apernas 10 (dez) equipes em âmbito nacional e, ainda que o
Brasil seja detentor de duas medalhas de bronze em Pan-Americanos (2011, em
Bogotá/Colômbia e 2013, Birmingham-Alabama/EUA
2013), a compor a 20ª (vigésima) colocação dentre 28 (vinte e oito) no ranking
de seleções da International Wheelchair Rugby Federation – IWRF, ainda assim
esse legado deve ser sustentado por projetos de caráter bilateral, não dando
margem para interesses particulares em detrimento de ações
coletivas.
Méritos a todos aqueles que contribuíram e aos que
ainda contribuem para que o Rugby em Cadeira de Rodas prospere, atentando que a modalidade ainda requer toda atenção e
cuidado, conforme rege as normas e diretriz do Sistema Nacional do Desporto, certificando as instituições, os agentes e os
atores envolvidos nesse processo para que essa ‘criança’
cresça, se desenvolva, adquira maturidade, o respeito e a consideração que
tanto merece; se tornando uma referência ímpar no desporto paralímpico nacional
e daí, ganhe o mundo.
E lembrar, que á dez anos atrás, éramos um grupo de
‘abnegados’ a sonhar. Sendo inclusive, desacreditados por alguns. E hoje somos
uma realidade a se consolidar.
*
Atleta Abnegado de Rugby em Cadeira de Rodas